quinta-feira, 24 de junho de 2010

Mudanças

A nossa mudança é percebida por um terceiro, que também não percebe sua própria mudança, é como a letra! Na primeira série ela é um garrancho, mas mesmo assim as professoras a lêem com estimado interesse... depois com o tempo ela se transforma, toma contornos singelos, traços firmes, quase poéticos, pode se ver na beleza a harmonia do tempo, gotejando lentamente em uma evolução quase imperceptível.Elas já não são mais lidas são sentidas! doces, proféticas, atenuantes e, até mesmo, chegam a dar consolo a quem sente o frio da solidão ou até mesmo de uma confusão quase letárgica, aos diversos caminhos da vida.Seus olhos verdes, junto a voz rouca, usando a desculpa de que trabalhara o final de semana inteiro com o secador de cabelos ligado ante ao cair de uma noite fria, debatendo comigo assuntos relacionados a complexa tarefa compreender as mudanças do ser humano... me seduziam, me encantavam, tocando tão profundamente em mim, que naquele instante, me senti como se voasse pelas nuvens do céu, leve como uma pluma, e voltasse a ser uma criança admirada apenas em ver a beleza das flores e das borboletas!Sim! Seus cabelos pretos perfumados e de pontas cacheadas, entraram em minha memória de forma quase milagrosa! Me tirara de meu estado inacessível, trazendo-me de volta a uma realidade mágica, era mágica, você era pura magia! e eu que não acreditava mais em contos de fadas, voltava a construir castelos de areia..Meu coração em pedaços, como uma menina, sim uma menina! Elas são o símbolo do sentimento terno e verdadeiro! Escondido embaixo da mesa, no escuro, lamentando baixinho, com os olhos molhados de lágrimas... Sorriu naquele instante, satisfeito tão somente em olhá-la e imaginar o que esta magia poderia ser na realidade!

"E a escolha tornou-se ainda mais funda: ou ficar com a zona sagrada intacta e viver dela - ou traí-la pelo que ele certamente terminaria conseguindo e que seria apenas isso: o alcançável. Como quem não conseguisse beber a água do rio senão enchendo o côncavo das próprias mãos - mas já não seria a silenciosa água do rio, não seria o seu movimento frígido, nem a delicada avidez com que a água tortura pedras, não seria aquilo que é um homem de tarde junto do rio depois de ter tido uma mulher. Seria o côncavo das próprias mãos. Preferia então o silêncio intacto. Pois o que se bebe é pouco; e do que se desiste, se vive. " Clarice Lispector - O sagrado e Alcançável

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Catalepsia viva - estado de contemplação da vida, sem distinção

Se pudesse dizer meu mandamento preferido, ou melhor, não o preferido, mas o que guardo com mais afinco, que manipulo com mais destreza, eu diria ser: “não dizer o nome de Deus em vão.”.... não que você seja semelhante a Deus, pois ele é puro e perfeito, pode ser que seja como os anjos, que representam o amor! o certo é que não digo seu nome, me afasto de pessoas que o tenham igual a ti, em minha agenda de telefones, as pessoas que começam com C, foram trocadas por K.
Evito as unhas vermelhas, me incomodam! pois minha ultima lembrança, além das lágrimas nos olhos, foram das unhas pintadas de vermelho, que você nunca havia pintado antes. Nas casas eu só vejo as portas, por que nas janelas não me debruço, e nem deixo debruçarem, temendo ver o reflexo de sua imagem a me olhar indo embora.
O dia de doze de junho, para mim é onze ou treze. Os toques quentes para mim são frios, e o amor, é tão somente sexo, sem significado, sem completude, somente um prazer tênue e limitado. Tudo e nada mudou! As coisas ganharam significados diferentes, pois só descobrir a profundidade de cada toque, cada beijo, cada olhar, cada sorriso, cada instante de amor, cada cheiro... depois que te perdi! E a única esperança, é de não tê-la perdido, prefiro pensar que você tenha me dito: “amor, vou à padaria e já volto”, e eu estou naquele quarto, deitado sobre a cama, olhando suas coisas que têm tanto de você, esperando você voltar. Para descobrir o tudo, tive que não ter nada!
Neste nada que há em mim, neste estado letárgico, catapilético, me encontro envolvo em uma bolha de sabão, que ruma à estratosfera, sem sons, sem contato físico de grande importância, sem chão... é maravilhoso o ato de só observar e não ter discernimento para colocar em palavras e sentir em seu coração o que é real e significante.
Não há certezas, apenas sinto-me como se estivesse somente observando o que ainda virá e esperando... A sensação é de como se acordar pela manhã, com um monte de gente falando ao mesmo tempo ao seu lado, e você sem fixar em algo com profundidade.
Os dias vão se gotejando dos dedos do tempo, e um dia após o outro eu vivo sem entender o que se passa, sem me perguntar o que aconteceu em meu dia, o que preciso mudar, o que foi bom, o que foi ruim... pois não tenho distinção disso! somente sinto que estou vivo, sentindo meu pulso, que indica que meu coração bate, e fico em silêncio em meio ao ensurdecedor grito da vida.
Estou vivo, por uma simples questão: ESPERANÇA! ela me mantém vivo... Se morresse lhe veria todos os dias, veria seu riso sem participar dele, e sabendo que definitivamente não participaria, te veria chorar sem poder te acalmar e aconchegá-la com carinho, veria as noites em que sua saúde não está boa, sem ao menos poder ligar e dizer: pode contar comigo! só a teria após a sua morte, e talvez muito depois, dependendo de como ceifaria minha vida. Em vida, ainda posso ser feliz e completo, nessa realidade ilusória! Morto, não poderia saber o que é a felicidade no que chamam de mundo real.

“...Viver é foda,
Morrer é difícil!
Te ter é uma necessidade..”

sábado, 5 de junho de 2010

Demonios

Manhã amena, a brisa leve entrava pelo vidro do carro que se conduzia a cadeia local, afim de finalizar mais uma manha de trabalho, eram dez da manha e ele ainda nao durmira, seu trabalho exigia isso dele, e até se acostumara com o ritmo com que as coisas aconteciam em sua profissao. Em sua cabeça o pensamento bailava, leve como uma pluma ou como dedos harmoniosamente a deslizar pelas teclas de um piano.
Via a pessoa que era conduzida até cadeia, pelo retrovisor do carro, aquele homem simples, educado, de olhar sincero e honesto… olhando a pastagem esverdeada e o cheiro que chegava ao seu olfato, vinha a mente os demonios, primeiramente pensara em sua ex-namorada que sempre achara que quando ele deixava de te ligar em horarios costumeiros, o mesmo em sua maioria das vezes estaria festejando… e neste instante sorriu pelos cantos dos labios, nao um sorriso, de contentamento, ou felicidade, era mais uma magoa que se revelava, seu interior triste sempre repreendido por ele, que vinha a tona naquele instante… se ela soubesse o quanto era dura sua vida, talvez o visse com outros olhos… mas ele prefirira se convencer de que nao tinha mais importancia, e espantou a imagem daquele rosto, cebelos, sorrisos e cheiro, para longe.
Como o vento o pesamento rumou para uma nova direçao, veio a mente a imagem de lucifer, um demonio, e se encantava com aquele ser; concluira que ate os demonios eram bons, eram seres cuja identidade fora deturpada pela igreja catolica ante sua ignorancia e falta de analise concisa;
Os demonios dao aquilo que pedimos a eles, nao antes de pedir permissao ao criador de tudo e de todas as coisas, se quisermos algo bom, o teremos.. se quisermos algo ruim o teremos do mesmo jeito; os demonios nao estao interessados em espalhar a Discordia e o mal por este mundo... para que iriam fazer isso, se nós ja fazemos! Se existe um demonio perigoso, mal, com beleza em sua face, e maldade em sua mente, este sao os homens!
Pois os seres espirituais, trabalham de acordo com suas vontade e ordem humana, logo o caos e a maldade é apenas uma semente plantada pelo limitado homosapiens e suas açoes egoistas, vaidosas… impensadas, que busca no demonio, uma forma de se livrar de sua propria culpa. Nao existe o bem e nem o mal, para as entidades espirituais, essa distinçao é de obrigaçao humana!
Naquele instante, perplexo, voltara a si, e sorrindo, agradecera seu mentor espiritual, por aquela intuicao acerca da espiritualidade e do ser humano. Contentara-se por ser ele mesmo, e apesar dos erros que ja cometera nesta vida, sabia que todos foram necessarios para o levarem a um patamar mais alto, nao que estivesse completo, fosse completo, por que viver é evoluir, e uma evoluçao onde o principal combustivel moto-propulsor, sao os erros. Ao menos de cara limpa, nao procurava culpar e nem coroar os seres espirituais, por seus exitos e fracaços, apenas os agradecia por manter o equilibrio.
``sabe porque nao nos lembramos de nossas vidas passadas? É simples, pergunte-se quantas coisas nesta vida voce gostaria de se esquecer.``