quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Memórias de Um suicída

Aqui jaz um corpo sem vida..
Seus demônios o devoraram.
Não se pode imaginar por quais belas paisagens ele cavalgou em seu cavalo imaginário,
ou ao menos quanto sonho teve, e por que pôs tudo a perder.
Por acaso quem o chamaria de covarde?
Não ousem!
Pois a maior coragem é desafiar a incerteza da continuidade da vida, e ele o fez.
Deixou de existir, em um sábado à tarde, ouvindo um velho disco da banda “Nenhum de Nós”, tendo como faixa sua canção preferida: "EXTRAÑO". Se foi sem temer a possibilidade da incerteza.
Deixou de viver sem pensar em seus amores, não se deu a oportunidade de amar novamente, pois o que tinha lhe foi suficiente e eterno enquanto durou, quem sabe teve amor a tudo, menos a si mesmo?
Com sua partida, a eternidade se tornou poeira, lançada ao vento
Tudo se foi, e ele também.
Dias antes o disseram que chorariam sua partida, argumentaram para que não cometesse tal ato, mas como ele não vira sua chegada ao nascer, também não veria a desconsolo daqueles que por ventura vissem sua partida.
Morreu por amar, morreu por sonhar, morreu por se perguntar, morreu por não se encontrar.
Morte, morte, morte... Tão digna de atenção, que se torna remédio para as dores da alma.
A nostalgia da vida, a desilusão, o fez enfermo, buscando no Doutor dos moribundos, a receita para sua cura.
Talvez se tivesse plantado uma árvore, escrito um livro, se casado, tido filhos, tivesse se salvado deste cruel destino. Mas ele não queria que tivesse sido assim, mas tinha em si a certeza, que a morte é conforto dos mortais, e que mais cedo ou mais tarde seria confortado pelos braços da verdadeira mãe, aquela que pacientemente lhe esperava regressar à gênese.
Entre seus pertences foram encontradas poesias, papéis avulsos que se perderam juntamente com sua vida, mas que o fizeram romper as barreiras do tempo e do espaço, afinal a alegria do poeta é sua tristeza, pois é somente após a morte que ele encontra a eternidade, que reconhecem suas letras, suas angústias, suas aspirações...
Na lixeira se perdeu seu último escrito, uma pequena folha amassada, com letras em dourado. O conteúdo não dizia a quem se destinava, mas era notável pra quem soubesse enxergar nas entrelinhas:
"Hoje quero dizer que olhei para as estrelas, e pude observar nelas o seu rosto, vi em cada uma as sardas do seu rosto, e na vasta escuridão do universo, seus cabelos... Uma brisa leve veio tocar-me a face, enchendo-me as narinas com seu perfume. Que saudades de você! Quero que saiba que aconteça o que acontecer, jamais irei te esquecer! vou te levar comigo dentro do meu coração. Toda dificuldade que você me fez vencer! Um natal de estudo, solitário, mas com uma mensagem de felicidades deixada por você! Apogeu e decadência, guerra da contradição. Nos teus braços eu encontrava a paz, me sentia mais especial, mais seguro... Mas tudo que começa um dia acaba, e tivemos um fim! Tudo bem! foi Deus quem quis assim. Só peço que ele te proteja, onde quer que você vá! Eu de onde estiver, estarei satisfeito de poder te observar, não feliz, mas satisfeito por te ver brilhar, por que eu aposto em você, eu acredito em você! Serei seu anjo da guarda, sem por todo tempo poder estar ao teu lado! Desculpa se não fui perfeito, gostaria muito de tê-lo sido, mas não sabemos do nosso destino. Os mistérios do universo são assim: uns nascem para serem felizes, e outros para observar a felicidade com uma lágrima, não de tristeza, mas de pura admiração e contemplação, por ver o sorriso de quem se ama. P.S Eu te amo"
Ao terminar de ler a carta, os olhos de sua mãe, que a encontrara, marejaram de lágrimas, lembrou-se de como seu filho era sensível, o quanto era doce e carinhoso, não entendia seus motivos, mas apenas silenciosamente respeitava-os, embora não sem dor.
Encaminhou-se então para o canto da sala onde se encontrava o belo piano, que com maestria ele tocava, e em meio as lágrimas pôs-se a dedilhar uma bela sonata de Frédéric Chopin – Nocturnos Op. N°2 en mi mayor -, se entregando à nostalgia daquilo que jamais voltaria, juntando-se a um mundo de ilusões e incertezas, do qual seu filho agora fazia parte.
A velha senhora foi encontrada pela manhã, com a cabeça prostrada sobre as teclas do piano, e sobre o colo, molhada de lágrimas. A carta a qual seu filho escrevera destinada a que não se sabe, mas no funeral, onde foram sepultados lado a lado, mãe e filho, uma jovem branca de cabelos negros chorou compulsivamente na leitura da carta de letras douradas, aos que puderam ver, disseram que ao lado dela uma forte luz branca acariciava seus cabelos e consolava seu choro.

"O que eu sinto a respeito de nós é estranho É estranho como é triste É estranho como olhar pra trás É estranho como é estranho Esquecer um nome
Eu amei e acho que algumas vezes Ela também me amou Só que o prazer é tão curto Eu amei e acho que algumas vezes Ela também me amou Só que esquecimento é tão longo"

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Papéis Avulsos

Ela parece demonstrar-se arrependida, parece querer voltar... e de certo joga para cima de mim alguma responsabilidade deste fim, alguma que por ventura não sei qual seria!
Sei que não sou perfeito, e minhas maiores limitações, apareceram quando eu tentei o ser!
Tudo que se inicia é carregado de planos futuros, mas os problemas passados não deixam de existir.
Se por acaso em algum instante, você me denominou como sendo um sonho, então por que não atendeu o telefone quando te liguei? Por que não me mimou pelas diversas vezes que te mimei? Não me venha com falsas desculpas, pois será que sua melhor amiga também seria tão falsa quanto suas desculpas? Por que não largou este seu telefone que incessantemente não deixava de tocar? Parecia fazer questão de que ele estivesse perto de você, afinal, não poderia perder nenhuma ligação. O que me espantou e chateou, foi exatamente eu te ligar e depois vir me dizer que não estava com o telefone por perto, mentira! Odeio falsidade, e os sorrisos que deveriam ser belos, têm a capacidade, com a maior naturalidade do mundo de se tornarem falsos.
Acho que você não perdeu nada de insubstituível em sua vida, e nem muito menos eu na minha. Há certo tempo atrás, aprendi que as pessoas podem ser inesquecíveis, mas insubstituíveis jamais. É dolorosa esta descoberta, pois o preço que se paga é alto demais, equivale ao sonho, ao coração, à alma.
Não desprestigiei tudo o que você teria vivido antes de mim. Muito menos, esperei ser a cura para todos os seus males, um placebo em sua vida, a final, queria um ser humano, e não uma deusa ou santa, mas somente alguém que fosse respeitosa e fiel ao que eu sou, e isso é indício de reconhecer um valor, e valor a gente descobre, não pergunta.
Talvez eu não seja tudo aquilo que imaginava que, talvez eu venda uma ilusão sobre a qual edifiquei minhas bases, e no fim não seja nem metade do que disse ser!
Ou por você não ter me descoberto, eu tenho por conseqüência, me perdido!

“perdoar não é esquecer, é lembrar sem mágoas”