segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A morte da liberdade



A cela de pouco mais de 20m², fora por oito anos o único lugar que pode chamar de lar. Peter sabia que aquela agonia já estava chegando ao fim, sua sentença havia sido proferida há uma semana, e na manhã do dia seguinte, exatamente em um sábado, às 21:15 da primavera de 2010, Peter não passaria de só mais uma estória que seria esquecida, no minuto seguinte à sua execução. Ele adorava os sábados e principalmente a primavera, embora as únicas flores que lhe fossem visíveis, eram aquelas vistas nas fotos que guardava em seus pertences. Resolveu passar aquele dia revendo as fotos, os sorrisos, os cabelos ruivos semi encaracolados, de sua namorada Lindsen. Ele observava tudo, como se estivesse revivendo aquele momento mais uma vez, como já fizera tantas vezes ao longo daqueles oito anos de agonia; Via o rio atrás do casal que conversava com amor, relembrava do cheiro daquela época do ano, do gosto do beijo de Lindsen, de como se amavam... aquilo lhe trouxe uma nostalgia, saudades de tudo que ficou para trás e que ele tinha certeza de que não voltaria a existir jamais, pois Lindsen estava morta e, ele também! Lindsen fora o motivo de sua condenação, uma condenação errônea, pois ele jamais despedaçaria a flor que mais cultivara, que tinha mais amor, que havia cuidado com mais zelo... Mas o júri não entendera assim, e proferiu a sentença: Condenação à morte!
Envolvido em seus pensamentos, ouviu alguém chamar-lhe à porta da cela, era o carcereiro.
O carcereiro era um homem bom! Um senhor de 70 anos, calvo, um pouco gordo, com 04 filhos para criar sozinho, pois a esposa o trocara por um homem mais jovem e rico, nunca mais dando notícia alguma... Aquela fora a única amizade que Peter cultivara naquele local, e agora, mais uma vez ele o chamava, talvez pela última vez. Ao chegar próximo às grades, o carcereiro o entregou as escondidas, um papel dobrado e o perguntou:
- Qual é seu último desejo?
Naquele instante Peter não sabia se chorava ou ria de desespero, era hilária aquela pergunta.
Tinha vontade de dizer que seu último desejo era: a vida!
Aquilo lhe parecia absurdo, pois o que mais alguém pode querer quando sabe que irá morrer? Não seria a vida, o ar, correr, pular, sumir para qualquer lugar onde não te encontrem, onde se sinta a brisa leve tocar seu rosto, o perfume da relva molhada enchendo suas narinas?
Por alguns instantes ele exitou em responder aquela simples pergunta, mas que para quem tinha seu tempo contado, fazia toda diferença!
Olhou para os olhos do carcereiro, que transpareciam, tristeza e compaixão! Peter não entendia como aquele homem poderia portar-se daquela maneira diante da situação, ele já devia ter feito aquela mesma pergunta para dezenas de pessoas! Olhando para suas mãos, viu o papel dobrado que lhe havia sido entregue, imaginou se tratar de uma espécie de manual de conduta para sua execução, revolveu deixar para lê-lo depois!
Novamente Peter perdeu-se de si mesmo, abaixou a cabeça, e se entregou às milhares de recordações que haviam o transformado no que ele era naquele instante, e assim, em um sussurro, balbuciou:
- Meu último desejo é simples! Pegue aquele banco e se sente próximo a mim como amigos na mesa de um bar, onde se tornam heróis e vilões, e aquele é seu campo de batalha, onde é tão fácil vencer sem lutar. Quero te contar minha estória, aquela que daqui há algumas horas, não passará de um epitáfio em uma lápide gélida!
Os homens se sentaram: Peter na cama, a qual por aquele anos fora testemunha de seus sonhos de liberdade, uma porta para fora daquele cárcere... O carcereiro puxou um banco de metal e se sentou de frente para ele. Conversaram por horas! Peter contou-lhe sobre suas travessuras de criança; sobre o cheiro da comida de sua mãe; sobre o primeiro beijo na namorada; sobre quando caiu de bicicleta e ralou o joelho, seu pai veio louco pegá-lo no colo, para aconchegá-lo, protegê-lo; falou ainda sobre o que de fato havia ocorrido com Lindsen, ela tinha distúrbios psiquiátricos, tendências suicidas e, quando tomou a decisão de ceifar sua vida, não imaginava que também estaria acabando com a de Peter, que fora condenado por Envenená-la! Ele amava aquela mulher, mas quão amargo era o sabor dela ter condenado sua vida, quando a dela ficou tão insuportável!
Finalizou sua estória, com o rosto enterrado nas mãos, as lágrimas que brotavam de seus olhos, gotejavam no chão, sob o olhar perplexo e observador do carcereiro, que saiu sem dizer uma palavra!
Vendo-se sozinho, Peter, caiu em um sono profundo, talvez fosse seu último sonho, seus últimos suspiros, já que para ele a transcendência da matéria, sempre fora visto com desconfiança!
Acordado por duas batidas nas grades, Peter olhou para um homem vestido de preto, e um carcereiro diferente do de outrora, lhe informando que faltavam meia hora para sua execução, e que aquele padre o daria a extrema unção, rezando consigo a fim de perdoar seus pecados.
Peter sentiu-se agradecido, mas sempre se opôs à idéia da fé católica, não só católica, e sim a qualquer tipo de dogma, que para ele era uma forma de domesticar o pensamento do ser humano!
- Senhor me sinto agradecido, mas não preciso redimir de meus pecados. Acredito que não tenho nenhum, pois não vejo pecado em viver! A vida não tem um manual de instruções, então como me imprimir uma idéia moralista de pecado? Não acredito que eles existam, mas se assim o fosse teria errado mais! Reze para Lindsen, para que ela descanse em paz, e para que se existir um Deus, ele possa perdoá-la por não ter tido a audácia de se encantar com seus erros, de rir de sua vida, e não se afogar em um mar de decepções, de amarguras, de tristezas maquinadas pelos padrões morais impostos que a mataram.
Dizendo isso, foi para o único cômodo reservado que havia em sua cela: o banheiro! Ali despiu-se e sentiu a água tocar seu corpo como se fosse a primeira vez; como era maravilhosa aquela sensação, como a água era quente, como o quente era morno, e como o morno aquecia!
Sorriu como uma criança ao tocar todas as partes de seu corpo, se encantou... ele existia, e agora sabia disso, sabia que existia, e existir era magnífico, era tão maravilhoso, era esplendido, nunca parara para apreciar seu corpo, suas formas, tatear suas partes com absoluta atenção, e agora que iria perder-se de di próprio, foi que de fato encontrou-se em si mesmo. Fechou o chuveiro, enxugou-se, colocou o terno italiano que haviam lhe dado para aquela ocasião especial, nunca antes usara terno, ainda mais italiano, não tinha dinheiro para comprar! E agora que iria morrer, a Casa Branca lhe enviara um como se fosse um cartão de agradecimento, por morrer, e não ser mais naquela prisão, um peso econômico para o estado.
A porta da cela foi aberta.
Peter começou a caminhar em direção a saída, mas lembrou-se do papel que o carcereiro havia lhe entregue. Foi até a cama abriu o pequeno bilhete, e deparou-se com uma única frase, uma frase em latim que não lhe fez sentido algum, mas não importava a falta de sentido, pois neste momento, não lhe importava mais os modelos definidos, de que todas as coisas tivessem de ter e fazer algum sentido! Ele fora lembrado por aquele homem, e aquilo já lhe era suficiente.
Então, colocou o papel no bolso do terno que vestia, e pôs-se a caminhar, deixando para sempre aquela pequena cela de prisão que por anos fora seu universo, nem tão grande nem tão pequeno, mas apenas suficiente para si mesmo.
E naquela noite, exatamente às 21:15, do dia 24 de setembro do ano de 2010, Peter, deixou esta vida após 2300 volts percorrer seu corpo, arruinando seus órgãos vitais. Dentro do paletó do terno que vestia, foi encontrado pela lavadeira da prisão, um pequeno pedaço de papel, cujo mesmo estava escrito: “Ad partus ovium noscuntur pondera ventrum”! Ela, assim como Peter não entenderam nada, mas anos depois a História de Peter foi contatada em um livro chamado: No fim é que se cantam as glórias! Escrito por um certo senhor que trabalhara naquela prisão, e testemunhou o último desejo de Peter, fazendo parte do seu universo, e lhe permitindo fazer parte do seu, permitindo ser a única coisa semelhante a Família por aquele, que outrora fora.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Simplicidade


E o que seus olhos viram, outros não verão!
Pois a experiência individual é singular, os sentimentos vividos são unilaterais, e as impressões variáveis de pessoa para pessoa!
Assim como o amor envolve o coração, a experiência envolve os olhos!
No brilho do olhar, é que se encontra a verdade, o afeto, o amor...
Os olhos são as portas da alma, a visão do coração...
São eles que falam aos lábios, quando se esboça um sorriso, ou que sentem a nostalgia da saudade, quando se enchem de lágrimas!
São eles que contemplam o divino, quando dormimos
Eu sou aquilo que toco, não com as mãos mas com os olhos, cada imagem é o que preenche minha existência meu ser, meu coração!
Minhas experiências foram filmadas e transformadas em mim!
Sou fruto do que vi, daquilo que vivi, do que senti!
Dizem as más línguas: que a primeira impressão é a que fica! Então feche os olhos, e o que restará? O silêncio! Você contra você mesmo, e seus incalculáveis demônios!
Mas talvez assim, descubra que levitar é só uma questão de sentir, de entrar em contato! De olhos fechados não poderás julgar pecados, não verá erros, a não ser os seus próprios!
Tudo poderá ser lindo, ou até mesmo, um inferno, vai depender do que olhos cultivaram!
Se esqueça dos ouvidos - eu sei que as palavras doem – mas elas não passam de momentos, lembre-se de tudo que viu e viveu, de tudo que se transformou em sua alma, em você!
Sinta a magia de cada momento! Desculpe os erros cometidos, assim sua alma pesará menos e seus olhos contemplaram a beleza que Deus queria que fosse percebida, quando criou este mundo!


"Não fui, na infância, como os outrose nunca vi como os outros viam.Minhas
paixões eu não podiatirar das fontes igual à deles;e era outro o canto, que
acordavao coração de alegriaTudo o que amei, amei sozinho"

Edgar Allan Poe

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O vendedor de sonhos

Ele não era livre, tinha uma esposa e um filha maravilhosa, respectivamente chamadas: Bianca e Sofia.
Tinha um apartamento de luxo no bairro mangabeiras, e como todo homem de sucesso, sua BMW chamava a atenção por onde passava!
Psicólogo de renome, adquirira fortuna, convencendo as pessoas de que elas eram melhores do que realmente eram! Ele mentia! Mas fazer o que, descobrira desde cedo que a verdade não deve ser revelada em suas mais profundas raízes. Não chamava aquilo de mentir, e sim, de omitir!
Com um consultório localizado, no prédio localizado na área mais nobre de Belo Horizonte, orgulhava-se do que conseguira, em uma profissão dada por muitos como, “passa fome”.
Não era forte, era magro, olhos atentos ao que acontecia, olhar profundo e penetrante, que escondia mistérios ou ocultava verdades.
Sua rotina maçante, o impedia de dar a atenção necessária que sua princesa e rainha, como ele as denominava, mereciam!
Saia de casa cedo, após preparar, o café, hábito que adquirira desde que se casara, e rumava para o consultório, onde permanecia até por volta das vinte horas!
Inventava reuniões, após este horário, para ocultar a verdade!
Quando então deslocava-se até o café Status, local onde costumava vender algumas utopias!
No auge de seus 35 anos, escondia de todos seus desejos carnais mais íntimos, seus segredos mais sombrios, aqueles os quais costumava execrar, após libertar seu gozo, nas entranhas de suas pretensas vítimas!
Era apaixonado por mulheres mais novas, por meninas, sua faixa etária preferida dos 18 aos 25 anos de idade, vendia-lhes sonhos promissores, prometia-as rios de ilusão, casa, família, viagens paradisíacas, uma aliança de casamento no dedo, e principalmente uma ligação no dia posterior, que nunca chegava!
Ele era assim, Vendia sonhos! Para conquistar o que queria, não que isso o deixasse feliz, mas o desejo era intenso, percoria seus instintos, brincava com sua libidinosa imaginação! Quando voltava a si, estava em mais um quarto de motel, destruindo mais uma vida cheia de sonhos, mais uma mulher cheia de planos, magoando mais um coração, que na iminência da felicidade entregava-se, iludida por suas falsas promessas!
Ele sabia jogar, afinal, jogar era sua vida, era seu futuro era sua profissão, jogar com a psique humana, buscar aquilo que te faz ter os sonhos mais surreais, dizer as palavras que elas nunca imaginavam que pudesse ser ditas a elas por alguém um dia, e assim ele as ganhava, pela fraqueza da maior necessidade humana, o sonho com um futuro afetuoso!
Ele sabia que todos eram fracos, todos tinham fraquezas e, ele não era diferente!
Ao chegar em casa deparou-se com a filha que o esperara, durante toda noite, dormindo no sofá com a televisão ligada, pegava Sofia e seu urso de pelúcia nos braços, e levava para cama, em meio ao trajeto, reparava naqueles olhos fechados, lábios avermelhados, pele branca, cabelos loiros lisos, pendulados para trás junto com a cabeça, imaginava com o que ela estaria sonhando, por que campos corria, quantas vezes ela gritava: “papai papai, vem brincar comigo, me abraça”! Naquele instante, toda a noite de prazer imensurável, e gozos intensos, passavam por sua cabeça.
Colocava sua princesa na cama, o quarto espaçoso, cor de rosa com branco, cheio de ursos de pelúcia, nas prateleiras ... fitava aquele rosto angelical, com amargura no coração, mas assim como libertar as pessoas de suas fraquezas, era seu dom, para si também isso servia como um alívio, pois engolia a seco a saliva, erguia cabeça, beijava a testa de Sofia e deixava o quarto.
No corredor, as imagens da noite o assombravam, e um fantasma interior surgia... um fantasma mais forte do que sua probabilidade de alto convencimento!
Sentia o peito palpitar, um frio tomava conta de seu tórax, lágrimas começavam a brotar dos olhos e um gosto amargo chegava-lhe a boca! Era o arrependimento o mais cruel, aquele quando recordamos da pureza do outro, ante nossas falhas e percebemos que eles não mereciam aquilo, o arrependimento chamado: Culpa!
O corredor parecia mais longo, do que de fato era, quando comprara, na planta o apartamento, as luzes iam se apagando sem ninguém tocá-las, sentia-lhe o suor frio ser excretado por sua derme, foi quando sentiu-se jogado ao solo do chão encarpetado, e nada mais viu ou sentiu!
Dois dias depois, abrira os olhos em um hospital, sob os olhares preocupados, de Sofia e Bianca, não entendera nada do que havia ocorrido, pois a última imagem que tinha era exatamente a do corredor! Observou o médico parar, em frente seu leito, pedir licença à filha e a esposa, para em seguida, quando a sós dizer:
- Senhor, você foi vítima de enfarto, mas já está tudo bem com relação a isso. Mas o senhor também possui um tumor no cérebro, e a cirurgia é impossível, a minha equipe e eu, estimamos que o senhor tem seis meses de vida, e nos colocamos a vossa disposição para o tempo que for necessário.
Ao sair do quarto, o médico pediu que sua família, a linda família que construira, retornasse ... Naqueles poucos instantes, lhe passou o filme de toda sua vida, de todo o tempo que perdera longe de sua rainha e sua princesa, em busca de aventura, de satisfação, e então entendera que sua verdadeira felicidade e prazer, era seu reino: seu castelo, sua princesa e sua rainha!
Quando novamente os olhos das mesmas fitaram os seus, e juntas disseram: Eu te amo!
Ele chorou, e sentiu saudade daquilo que ainda nem vira, e nem veria, por ter perdido tanto tempo vendendo e roubando muitos sonhos, e não realizando nem ao menos os seus!

Uma menina chamada Grazzy!


Graziele era linda, libérrima, uma flor que despontava em meio o sol quente de uma pequena cidade!
Apareceu em minha vida de maneira espontânea, encantando-me com os gestos e os carinhos, tão simples e cativantes, que tocavam profundo o íntimo de meu ser.
Desde o começo, eu estava predestinado a perdê-la, mas não me importava, aprendi a fazer das pessoas seres especiais, não importando o tempo em que passavam ao meu lado, não tenho pacto com o futuro, o presente é o que me satisfaz!
Graziele dizia que queria voar, sair daquele lugar, crescer, estudar, dar bases sólidas à sua vida que se iniciava!
Eu a incentivava com ternura, e via o agradecimento em seu olhar, a fazia rir com simplicidade, para não se esquecer, que a existência tem que ser por inteiro resumida, no primeiro sorriso de um bebê, assim o fazem as pessoas felizes, e verdadeiramente satisfeitas, realizadas na vida!
Graziele era um anjo, um anjo que iria voar, pois seres celestiais, só ficam em nossas vidas até cumprirem suas missões, ou seja, o tempo necessário, para nos encantar e nos relembrar a beleza contida no perfume das flores e no bater de asas de uma borboleta.
Assim Graziele se foi, e pela primeira vez eu agradeci alguém que partia, pelo simples fato de ter estado ao meu lado, sem planos, sem sonhos, sem frustrações, apenas vivencias inesquecíveis, que me encantaram e ficaram para sempre guardadas em algum cantinho da minha memória e do meu coração! Um dia, quando eu for fazer a limpeza de meu porão particular, quando a morte for cerrar meus olhos, e for para junto de meu Pai, irei rever aquele sorriso, que tanto me encantava, e sentirei que em minha caminhada, anjos passaram em minha vida, como sinal da existência de Deus!

“Este sou eu Na esquina, de novo Tudo é tão novo quanto esta canção ?Será que alguém presta atenção?”

Primavera


Na madrugada escura e fria daquela pequena cidade, um beijo profundo e lento, buscava minha alma, como quem tem sede de sonhar! Com olhos abertos, apenas observava com certo distanciamento, o rosto lindo e perfeito daquela menina mulher que ali me acompanhava. Sim, menina mulher! Olhar de menina e espírito de mulher; mulher batalhadora, guerreira, linda e sonhadora... Sem perder, é claro, o toque sensível, e o sorriso encantador, de uma menina.
Trabalhava em dois empregos: um de segunda a sábado e outro de sexta a domingo. Certa vez ao indagá-la do por que de tanto sacrifício na mais tenra idade, ela me deu uma sensata e coerente resposta, digna de minha admiração para toda vida: “para eu conseguir o que quero, preciso trabalhar, não sou como pessoas mesquinhas que tem tudo o que querem e como querem nas mãos, mas também se assim o fosse, jamais me esqueceria de como eu poderia ter sido, não deixaria de ver a limitação que cada um tem na vida, e a incapacidade de trabalhar em um sonho no momento em que gostaria, para vê-lo real”.
Aqueles olhos esverdeados, antes fechados, se abriram e, lenta e carinhosamente, foi descolando seus lábios dos meus, me envolvendo em um abraço apertado, confortador e terno.
Naquele instante senti suas mãos apertando minhas costas e seu rosto vagarosamente aconchegando-se em meu peito, seu olhar se perdera, como que em busca de alguma resposta para algo que se passava em seu íntimo.
Acariciei seus cabelos, sentindo o leve perfume que exalavam, e a perguntei:
- O que foi, me parece um pouco perdida?
Ela fez menção de afastar minha impressão, dando-me uma desculpa qualquer, e eu, como bom expectador da alma humana, não aceitei sua esquiva.
- Até parece que me engana, não tente me dizer que não é nada, sua boca pode até mentir, mas sua energia e seus olhos, jamais!
Lentamente, a sentir esfregar o rosto em meu peito, como se auto-acariciasse...
Sua voz, baixa e calma, então revelou-me o que se passava:
- Sabe... Já tem um tempo que te conheço e, por algum motivo, sinto que tem carinho comigo, mas que não devota a mim tudo que eu sei que você pode dar a uma mulher! Você me parece de gelo, e às vezes, eu consigo liquefazê-lo, mas não consigo libertar o anjo que tem aí dentro, que ainda assim continua em sua prisão! Que fique claro que não estou lhe cobrando nada, por que sinceramente, por menos que me dê, é provido de tanta sinceridade que não imaginava que pessoas como você ainda existissem nesse mundo! Me sinto tão maravilhosa, quando você me espera após o trabalho, levando uma rosa nas mãos, mesmo sabendo que em seu rosto, o sorriso seja de momento, por que sinto que em seu peito, seu coração não se alegra mais de uma maneira profunda e entregue!
Me impressionei com aquela menina mulher naquele momento, talvez não fosse a mulher que falasse naquele instante, e sim sua sensibilidade de menina. Sem palavras para dar explicações a ela, não por não ser detentor de tais esclarecimentos, mas sim por que ela não merecia ver em que meu coração se transformara, se é que ainda existia ali um resquício de batimento cardíaco e, nem muito menos,eu queria lembrar do que havia me transformado em tal aberração!
Mas de certa forma, ela aos poucos ia devolvendo minha alma, me fazendo admirá-la, restaurando-me a capacidade ser como uma criança, que volta para casa dançando e sorrindo sem motivo.Naquele instante, acho, que eu era como uma bebê, que estava reaprendendo a caminhar, e o carinho que eu sentia ao olhar nos olhos daquela menina mulher simplesmente me enchia de alegria, felicidade e gratidão por estar vivo.
A mim que foi concebido o dom, ou desgraça, da descrença em tudo que não pudesse ser explicado por nossa ciência cartesiana, pela física maciça e rígida, começava a refletir sobre, quem sabe, algo maior do que os cálculos, do que a ciência e, me arrisquei a imaginar os planos de Deus em nossa vida, sua forma de agir, mudando nossos caminhos, não sem dor é claro, para locais os quais nunca sonhávamos, nos fazendo conhecer, talvez, a pessoa a qual estávamos predestinados.
- Dedicado a Bruna Mendes -

Noite Liquefeita


Abrindo e fechando algumas páginas na net, após fazer minha inscrição para o concurso de Oficial da Polícia Militar, me deparei com uma página, a qual como almofadas em meio a uma sala perfumada, aconchegava uma carta psicografada!
Interessei-me pelo assunto, uma vez que não ando nada bem, e por mais que tente ser forte, me deparo com momentos de muitas trevas, muitas dores em meu coração e em minha alma.
Choro por horas a fio, penso e repenso em tudo que aconteceu e está acontecendo em minha vida, e nestes instantes me volto a Deus, não com o intuito de reclamar, mas é impossível, ante meu clamor e seu silêncio, não chegar a perder a fé. Peço perdão a ti meu Deus, por não compreendê-lo em certos momentos e até mesmo, excomungá-lo em atos rebeldes, mas às vezes um simples toque de ti pai, alegraria tanto meu coração, afogado em mágoas, tristezas e desesperança. Tudo que quero em minha vida é ter aquela felicidade que brilhava em meus olhos antes de entrar nesta polícia, aquela criança que se encantava com uma borboleta, com o balançar das flores amarelas do bosque, aquele menino que mesmo sem ter aquilo que mais amava, era feliz, por ser ele e saber o valor que tinha; Que rezava todas as noites pedindo proteção à pessoa amada, que não a pedia de volta, mas que se a trouxesse ficaria muito feliz, e se não, estaria da mesma forma feliz. Pai minha cabeça mais parece um emaranhado de tristezas, querendo ser decapitada...
Tem momentos, que fecho os olhos e a única imagem que me vem à cabeça, é de meu sangue pingando no chão, o cheiro ocre vindo da poça originado de meus pulsos cortados, me enche as narinas. Nestes momentos imagino se seria essa a saída, para a libertação, ou se seria um castigo eterno, e me enraiveço contigo meu Deus, pois até para morrer, minha consciência teme que a libertação carnal, seja sucedida de um castigo divino, não entendo como poderia o senhor me castigar pela morte, quando a ti clamo pela vida... Em meus ouvidos só ouço o vento! Como poderá me castigar, sendo que quando apenas lhe peço um aconchego quando vou dormir, e só sinto a cama vazia. Quando tenho alguém ao meu lado, por mais que tente me sentir completo, me sinto uma metade que perdeu por conta própria, seu complemento. Pai! Eu não escrevo mais sobre ela, eu apenas sinto, e repudio o que sinto. Deus há silêncio dentro de mim, e repudiar meu coração, somente me trás uma tristeza e um ódio imenso, tanto para contigo quanto para com todos os seres humanos. Pai, qual é a verdade? Qual é o caminho? Eu lhe pergunto todos os dias, e nada de respostas, até o direito de projetar-me lucidamente, me parece ter sido tirado. Sei que não estou em equilíbrio para que este processo aconteça, mas pai, era a única coisa que me dava certeza da existência de algo após esta vida. Senhor! Tornei-me exatamente aquilo que temia, tornei-me alguém, que somente cumpre seu tempo aqui na terra, rezando para que os anos passem logo, e possa morrer sem ser castigado por ti. Uma pessoa que não tem lugar neste mundo, pois não encontra distinção do que é bom ou ruim, que não sabe onde é bom para estar, por que falta alguma coisa, aquela coisa que me fazia forte, e não sabe exatamente o que era. Sei que preciso ser forte, com ou sem esta coisa, por que eu não posso entregar minha vida nas mãos de algo que não a queira.
Amém


- este txto foi escrito há um bom tempo, só agora posto -


“Só sente saudade quem teve na vida momentos de felicidades! PRESENÇA É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas, teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento das horas ponha um frêmito em teus cabelos... É preciso que a tua ausência trescale sutilmente, no ar, a trevo machucado, as folhas de alecrim desde há muito guardadas não se sabe por quem nalgum móvel antigo... Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela e respirar-te, azul e luminosa, no ar. É preciso a saudade para eu sentir como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida... Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista que nunca te pareces com o teu retrato... E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te. se um dia uma brisa leve e suave tocar seu rosto, não tenha medo, é apenas minha saudade que te beija em silêncio...”Tatiana - Psicografia

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

e aquele menino?


Eu sou aquele menino que se esconde no quarto, em frente ao computador por ter adquirido fobias sociais.
Eu sou aquele menino, que sente saudades do encanto da vida.
Eu sou aquele menino que pensou que a tristeza iria passar amanhã, mas o amanhã chegou e a tristeza continua.
Eu sou aquele menino confuso, que não tem pra onde ir, mas não quer ficar, que também não tem certeza se o problema está nos lugares onde ele vai, ou se com ele próprio.
Eu sou aquele menino, com desejo sexual exagerado, e que se martiriza por isso.
Eu sou aquele menino, que sorri por fora, mas por dentro está aninhadinho, chorando em um canto.
Eu sou aquele menino, que outrora fora visionário, sonhador, ambicioso; mas que perdeu os sonhos, e não encontra sentido para ambições.
Eu sou aquele menino que se pergunta, se terá a mesma honra de Sabino: “nasceu homem e morreu menino.”.
Eu sou aquele menino, inteligente, que as vezes não queria saber de nada.
Eu sou aquele menino, que sabe exatamente como nasce e morre uma estrela, e acha todo este processo ínfimo, ante a possibilidade da correção de alguns erros, e contenta-se.
Eu sou aquele menino, que acredita em Deus, mas já perdeu a esperança nos homens.
Eu sou aquele menino, que tem uma arma, mas que não sabe pra que usá-la.
Eu sou aquele menino, que busca desesperadamente por um contato com seres de outro plano, mas que também os teme.
EU sou aquele menino, que tem todas as respostas, mas ainda assim faz muitas perguntas.
Eu sou aquele menino, perfeccionista, que não nasceu para aceitar nada, mas que tem certeza se assim o fizesse, seria mais feliz.
Eu sou aquele menino, que odeia reclamar e ficar triste, mas acontece, que as vezes é inevitável.
Eu sou aquele menino, que mesmo não sendo complacente com certas situações, admite que não deve reclamar dos planos de Deus e, esforça-se para tal.
Eu sou aquele menino, que sonhava em se casar, ter filhos pra criar, uma casa, um cachorro, uma esposa com o sorriso de menina e cabelos perfumados, mas que não sabe onde pode ter perdido esta incantável ilusão.
Eu sou aquele menino, que brigou quando disseram que ele não sabia do seu futuro, e que seus sonhos pudessem não se realizar.
Eu sou aquele menino, que acha que já amou o suficiente e o que tinha para amar, e ao mesmo tempo seu maior arrependimento é ter conhecido o amor.
Eu sou aquele menino, que sente saudades da avó e do avô.
Eu sou aquele menino, que possivelmente tem tudo o que você queria ter, um emprego estável, condições de ter um carro, de sentar em qualquer boteco sem medo de pagar a conta, mas que mesmo ante isso tudo, abriria mão de tudo isso, pelo simples fato de sentir-se feliz e capaz.
Eu sou aquele menino, que toma ante depressivos e remédios para dormir, com a esperança de recuperar o encantamento, mas que se sente tão fraco por ter deixado de ser forte.
Eu sou aquele menino, que não é mais um menino, mas que sente saudades dos tempos o que fora, da pequena sutileza de se encantar.
Eu não sou mais aquele menino, sou este homem que sente saudades de ser aquele menino.