Eu conheci um velho. Um velho que
embora fragilizado pelos anos que lhe batiam à porta, sempre se mostrou mais
forte que muitos jovens de hoje em dia. Um homem que apesar dos setenta anos, acordava
pela manhã e encontrava sua esposa a qual lhe entregava uma capanga com sua
marmita e uma garrafa de café. Sim, ela era seu verdadeiro amor, um breve fitar
com a eternidade de Eros. Afinal, o homem é o tempo, e o tempo é passageiro,
mas o amor é eterno e se dissipa até mesmo em meio as trevas.
O velho saía para o trabalho com
pés largos e grossos, sem calçado algum. Ele poderia se entregar ao eterno
comodismo dos aposentados, mas apesar de velho, sua natureza selvagem e seu
espírito de homem com H, urgiam por ocupar seu tempo. Sob o sol quente, com sua
foice ele batia o pasto do patrão ou usava sua enxada para capiná-lo.
À tardinha, como de costume, o
velho tomava sua pinga na venda e retornava para casa onde ainda arrumava
energia para pescar com os netos, e como eram chatos aqueles netos exigentes de
sua atenção. Ele não era de demonstrar com palavras seus sentimentos, mas
também nunca precisou, ele amava em silêncio, com o brilho dos olhos... Os
olhos que nunca vou esquecer!
Talvez tenha se arrependido
quando viu o inescapável amanhã levar sua companheira de tantos anos, pode ter
se lastimado pelo silêncio, mas se o fez, também fez calado em seu âmago... Mas
eu vi, na melhor forma de sua expressão, no silêncio de suas palavras, através
de um olhar perdido. Depois disso ele nunca mais foi o mesmo. Pouco depois o
tempo também veio fitar-lhe o olhar e cerrar seus já cansados olhos, levando-o
para um misterioso futuro onde a eternidade pode estar somente no pensamento
dos que ficaram.
Eu conheci um velho, um bom velho
que partiu pouco depois de seu grande amor.
Geraldo Teixeira de Miro, In
memoriam.
“... Quando
eu crescesse eu queria ser que nem você
Agora eu já cresci e ainda quero ser
Eu tenho a cara do pai e tenho cada vez mais
Eu tenho os olhos do pai e o coração
Quando eu crescesse eu queria ser que nem você
Agora eu já cresci e ainda quero ser
Eu tenho orgulho do pai e tenho cada vez mais
É muito orgulho, meu pai e gratidão...”.
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